As fabulosas histórias da Tapada de Mafra, de Cristina Carvalho
Este livro é um roteiro de emoções. Um vislumbre do mundo que se abre ao visitante da Tapada de Mafra. Vamos conhecer a história da sua construção, as suas árvores e plantas, os bichos, a atividade dos cuidadores, os piqueniques, os passeios noturnos, os medos e as lendas, divididos em capítulos, cada um com o seu tema, com o seu olhar. Estamos num plano onde homens e bichos, sem deixarem de ser homens e bichos, se encontram para juntos construírem uma relação. Pode ser uma relação de dependência como o falcão e o seu falcoeiro, ou algo de fantástico, inacreditável, como o voo do jovem nas costas do bufo Elvis. A narrativa surge pela voz dos personagens, deslocando o foco do olhar sobre a floresta, como no episódio onde a narração é entregue ao bufo real, a mais imponente e silenciosa ave da tapada.
A floresta é um templo vivo, caminhemos conscientes de que ela sente o nosso respeito. Avancemos num sussurro, para não comprometer o equilíbrio de tanta beleza, assim o ordena a floresta, assim nos convida esta escrita, onde o fantástico espreita e os mais jovens vivem uma experiência quase mística. O vibrante mundo da tapada visto pelos olhos dos seus habitantes. Alguns poemas, com sabor a ladainha popular, irrompem como parte da aventura na Tapada de Mafra. O poema que ilustra o capítulo dedicado ao lobo, surge numa rima cuidada, num registo de pegada indelével. É que os lobos preservam uma organização primitiva, cuidam dos seus mais fracos e caçam em conjunto, que isto de viver em sociedade também faz parte da vida dos bichos.
Muito existe para contar, muitas histórias, mas acima de tudo, subsiste essa constatação primordial, partilhada por todos os seres vivos – homens, plantas e animais – essa inenarrável condição de seres mortais. A luz última que se extingue, para que tudo se renove.
São locais secretos, são ambientes sagrados, são espaços cheios de cor, de sensações, de ruídos, de animais, de frios e de quentes. Aqui na floresta não existe monotonia, nem existe o silêncio.
Nota: a obra conta com ilustrações de Teodora Boneva e fotografias de Nanã Sousa Dias.
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