O Castelo dos Destinos Cruzados | Italo Calvino
Tendo perdido a capacidade da fala, um grupo de pessoas vai contando as suas histórias recorrendo às cartas de um baralho de Tarot. O relato chega-nos através de uma segunda voz que vai interpretando o significado de cada carta, reconstruindo assim a história. As cartas assumem um valor narrativo que excede o significado do seu arcano: o bosque representado pelo Sete de Paus, o jovem ágil pelo Valete de Paus, e a Quina de Copas remete para um segredo alquímico negociado com o próprio Diabo.
Metáforas onde os participantes refletem as suas vivências, as suas emoções e despertam, no seu relato, o significado oculto de cada carta. Deste modo, as histórias abrem-se à fábula e ao fantástico, potenciadas pela iconografia medieval das cartas do Tarot.
Na primeira parte do livro, o grupo de silenciosos convivas atravessa um bosque num processo iniciático que os coloca sob a mesma dimensão do fantástico, fruto de um percalço para o qual não nos é oferecida explicação alguma. No final, todas as cartas encontram-se dispostas em cima da mesa, entrecruzando histórias e abrindo novos percursos aos quatro ventos.
Na segunda parte do livro os participantes vão escolhendo as suas cartas, roubando-as uns aos outros, como se o destino de cada um apagasse a memória do outro. O contar das histórias deixa de ser individual, na medida em que cada carta escolhida pode ser desviada por outro participante. Sobre a mesa fica um mapa do traçado de vida, feito de opções e renúncias. No destino existe sempre uma mão invasora a desviar o curso de cada história ao sabor das cartas surripiadas. No fim, o baralho de Tarot distribuído sobre a mesa, resume todas as histórias, as contadas e as ainda por contar, um oráculo ordenado, não pela vontade humana, mas pela mão do próprio caos.
Não há lugar melhor para guardar um segredo do que num romance incompleto.
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