Lançamento do livro O MARUJO – UMA HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA, de Afonso Valente Batista, com apresentação de Fernando Dacosta.
Amália – A Ressurreição | Fernando Dacosta
Uníssona, a multidão rebentará depois em aplausos, desconcertando Amália, que se ergue, se dirige à varanda, se acena sob sorrisos em lágrimas. Milagres aconteceram-lhe sempre, que inexplicável lhe foi o destino – sempre.
Fernando Dacosta brinda as suas divas com uma escrita poderosa, elegante e de fina sensibilidade, conheceu-as como poucos, partilhou da sua intimidade, aturou-lhes excessos, amou-as. Foi assim com Natália Correia e com Amália. Neste livro deixa-nos um registo em forma de apontamentos, o essencial para descodificar a personalidade da cantora que marcou gerações de portugueses, se fez temida pelo regime ditatorial, sofreu com a revolução, mas foi resgatada pelo povo. Continue reading “Amália – A Ressurreição | Fernando Dacosta”
Na Lisboa de Amália, não se anda em romagem de saudade, anda-se pelos traços do passado em direcção ao futuro, avançando-se em espiral. Nada do que lhe é vivo se revela uma coisa só. Importa que cada bairro tanja a sua nota, aquela que é só sua – tocata e fuga.
Amália – A Ressurreição, Fernando Dacosta, 2017, Casa das Letras.
A morte de Amália elevou o fado a Património Imaterial da Humanidade e a paixão da juventude portuguesa leva, hoje, à ressurreição do mesmo. Trata-se do fenómeno cultural mais expressivo do nosso tempo. Dezenas de fados inéditos da cantora estão a ser descobertos provocando um surpreendente renascimento seu. Continue reading “Amália – A Ressurreição”
Máscaras de salazar by Fernando Dacosta
“Saibam que não tenho medo de morrer de medo.” (Salazar em resposta às pressões dos aliados durante a II Guerra Mundial)
Para que o mito sobreviva é preciso desconstruí-lo. A imagem de um Salazar austero, rigoroso e distante dos jogos da política, encontra neste livro o contraponto de um velhinho encantador, um ancião de fortíssima personalidade e energia e, tal como Miguel Torga, interroga o autor sobre o andamento das vindimas. Um homem rural, apegado aos valores do campo – os bons valores que estão na génese da identidade portuguesa – que percebe como ninguém a alma triste dos portugueses. Que ignora muito do que é feito em seu nome. Que sugere a fuga de Cunhal e é surpreendido pelo assassinato do general Humberto Delgado, notícia que acolhe com desagrado. É esse académico que, não querendo, se transforma num homem providencial. “Tem todo o ar de lhe ser indiferente estar, ou ir; em todo o caso, está. Está a tanto tempo, e tão tranquilamente, como se ameaçasse nunca mais deixar de estar.” (citando Salazar)
Fernando Dacosta, acreditado como correspondente da imprensa internacional, transforma-se, por via da dona Maria, em assíduo de S. Bento, e consequentemente num quase confidente de Salazar. O autor não se assume como um homem da situação. Não fui eu quem escolheu a época do Salazarismo para existir, desabafa. Reclama ter transportado ao forte de Peniche, com gasolina à sua custa, muitos familiares de presos políticos. Acaba mesmo por ser despedido da Europa-Press (afeta à Opus Dei), por não ter, em política e costumes, comportamentos correctos. Teve a sorte de nunca a PIDE ter desconfiado desta visão pouco convencional que o autor protagonizava.
O Botequim da Liberdade by Fernando Dacosta
Para que se justifique a nossa vida é preciso que alguém a invente em nós.
Natália Correia
Era uma mulher inigualável. Nos caprichos, nos excessos, nas iras, nas premonições, nos exibicionismos, na sedução, na coragem, na esperança. Cantava, dançava, declamava; improvisava, discursava, polemizava como poucos entre nós alguma vez o fizeram, o sonharam.
Natália Correia surge aqui num retrato de corpo inteiro, com seu lado inquieto a vincar estas páginas. O Botequim foi local de gente assídua e, provavelmente, com o Procópio(1) das últimas tertúlias de Lisboa. Local de comunhão com pessoas de espírito e ousadia porque se deve evitar a cultura desvivenciada, pois só quando se está muito na vida se pode transmiti-la aos outros.
Mulher de excessos exercidos com apurado sentido cénico, Natália contribui para o “anedotário” que surge à sua volta e que ela alimentou com poses extravagantes e comentários provocadores, (o que) a reduziu por vezes a caricaturas de si própria, impedindo a percepção da sua autenticidade.
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