Debaixo de Algum Céu by Nuno Camarneiro
Num prédio as vidas arrumam-se como livros numa estante. São histórias fechadas em si mesmas, ou nem tanto, porque as histórias têm tendência de ir por onde não devem.
David, o informático, vive de inventar gente, pagam-lhe para desenhar pessoas em código, são os trabalhadores/escravos de um futuro próximo; os que, no inferno, irão arder por nós. Frederico, o miúdo, desenha gente em papel, histórias de lugares para onde fugir. Um mundo que se “dissolve em sombras e cópias imperfeitas do que há”. Marco Moço recolhe na praia objetos que as pessoas vão deixando, outros que o mar lhe traz. Pretende fazer uma máquina que reproduza o som da natureza; encontrará então, a partir da cave do prédio, a liberdade com que sempre sonhou. Todos parecem viver esse avesso do céu que é a nossa vida. Uns mais intensamente, outros meio conformados, como se o tédio fosse música e aquela a sua forma resignada de dançar. Os que criam, procuram lançar as sementes da revolução, desenhá-la em papel, deixá-la a germinar em código ou soltá-la em música.
São as personagens incertas que habitam aquele prédio à beira do mar. Delas não conhecemos o seu passado, também não iremos conhecer o seu futuro. Afinal, “uma história são pessoas num lugar por algum tempo.”
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